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Que Oswald de Andrade inspire os Trezentos…

Oswald de Andrade foi o maior. Augusto de Campos, em um ensaio de introdução à edição fac-similar da Revista da Antropofagia, afirma: “A Antropofagia, que – como disse Oswald – “salvou o sentido do modernismo”, é também a única filosofia original brasileira e, sob alguns aspectos, o mais radical dos movimentos artísticos que produzimos”. É a chave para pensarmos o Brasil ou o mundo a partir do Brasil, como prefere Eduardo Viveiros de Castro.

Imaginava o poeta que as sociedades primitivas seriam capazes de oferecer modelos de comportamento social mais adequado à reintegração do homem no pleno gozo do ócio a ser propiciado pela civilização tecnológica. Para Oswald, o ócio a que todo homem teria direito fora desapropriado pelos poderosos e se perdera entre o sacerdócio (ócio sagrado) e o negócio (negação do ócio). Para recuperá-lo, propunha a incorporação do homem natural, livre das repressões da sociedade civilizada.

A formulação essencial do homem como problema e como realidade era capsulada neste esquema dialético: 1.º termo: tese – o homem natural; 2.º termo: antítese – o homem civilizado; 3.º termo: síntese – o homem natural tecnizado. A humanidade teria estagnado no segundo estágio, que constitui a negação do próprio ser humano, e no qual fora precipitada pela cultura “messiânica”.

Contra a cultura “messiânica”, repressiva, fundada na autoridade paterna, na propriedade privada e no Estado, advogava a cultura “antropofágica”, correspondente à sociedade matriarcal e sem classes, ou sem Estado, que deveria surgir, com o progresso tecnológico, para a devolução do homem à liberdade original, numa nova Idade de Ouro. Conotação importante derivada do conceito de “antropofagia” oswaldiano é a idéia da “devoração cultural” das técnicas e informações dos países superdesenvolvidos, para reelaborá-las com autonomia, convertendo-as em “produto de exportação” (da mesma forma que o antropófago devorava o inimigo para adquirir as suas qualidades). Atitude crítica, posta em prática por Oswald, que se alimentou da cultura européia para gerar suas próprias e desconcertantes criações, contestadoras dessa mesma cultura.

Neste blog, nos reuniremos, creio eu, contra o neg(ócio) e contra determinadas formas de sacerd(ócio), cujas ações afastam-nos de atingir a síntese que buscamos: a do homem natural tecnizado. Oswald era um utopista e afirmava que todas as utopias, com exceção da República de Platão, foram desenhadas tendo como leitmotiv a chegada do Europeu à América. Nós, os americanos, surgimos para o pensamento ocidental no espaço da transformação.

O ciberespaço é o novo terreno da utopia. É o lugar em potencial da realização de nossos sonhos e desejos de transformação mais profundos. Mas precisa ser construído, a partir da defesa radical da liberdade. A igualdade virá disso. Nesse princípio de multidão, seguro o megafone (este que pode estar em quaisquer mãos) com a palma esquerda, aperto o gatilho e digo: “que Oswald de Andrade inspire os Trezentos…”

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