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Sonho de um dia de trabalho, poema de Manuel Esnaola

Manuel Esnaola, de Córdoba, Argentina, do livro nada fuera de lo común

Acaba que todos riem
na ilha de trabalho e eu meio desconcertado
lhes digo de que estão rindo?
da outra ponta do corredor aparece o chefe
se joga no chão desmembrando-se também
de tanto rir segura a pança
como se lhe tivessem dado uma punhalada
Eu me apalpo o corpo a gravata prolixa
os botões da camisa no seu lugar
existo estou aqui parado
digo para mim e nisso vem a secretaria
com uma garrafa de Whisky nas mãos
toma um trago Manuel
eu bebo tudo o que posso, empino a garrafa
onde está com a cabeça nenê?
Me consola em tom maternal
Mas do que eles riem?
Vem o Rolo e me oferece um baseado
o chefe segue jogado no chão
Com certo ar frenético dou um tapa
Mas esse prédio tá cheio de gambés!
digo ao Rolo enquanto o fumo sobe
até os detectores de um momento
a outro vai começar a chover
Causa de origem: Esnaola fuma maconha
em seu lugar de trabalho
Em um ato de inércia toco minha cintura
é como se passasse a entender tudo
olho para baixo tenho uma revelação
apenas os mocassins e as meias postas
as calças eu esqueci
suspensas na cadeira da minha casa
Sem enlouquecer dou outro pega no baseado
e vejo que da ilha de trabalho contígua
saem como zumbis os recursos humanos
que me oferecem seringas cartões pastilhas turbinas
mas que caralho é isso?
Eu grito ao Rolo
me peço que me jogue pela janela ao campinho do ferroviário
que quero acordar agora
não, melhor que me leve
no cano de uma bicicleta roubada
até o penhasco onde se rompe o sonho.

(tradução Rodrigo Savazoni)

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